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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Comprar um pet 'diferentão' custa até R$ 70 mil; veja como fazer


Arara-azul é o animal de estimação com preço mais alto achado pelo G1.
Saiba como ter um bicho incomum de forma responsável e dentro da lei.



Arara-azul, animal que custa R$ 70 mil em lojas de São Paulo; ave chega a ter de 1,5 a 2 metros de envergadura (Foto: Flávio Moraes/G1)Arara-azul custa R$ 70 mil em SP; ave tem 2 m de envergadura com as asas abertas (Foto: Flávio Moraes/G1)
Lagartos, cobras, araras, quatis, macacos e sapos. Muitos são os animais "diferentões" dos tradicionais cães e gatos que podem virar bichos de estimação. O G1 conversou com lojistas, biólogos e veterinários para saber o custo e as condições necessárias para se ter um animal silvestre (natural da fauna brasileira) ou exótico (que não existe na fauna do país) em casa. O mais caro encontrado foi a arara-azul, espécie originária do Pantanal e de regiões de cerrado. 
O preço chega a R$ 70  arara-azul é considerada um animal ameaçado pelo Ministério do Meio Ambiente, junto com outras 625 espécies listadas no "Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção", publicado em 2008. Mesmo sendo incomum, a arara exige cuidados semelhantes a outras aves, aponta o biólogo Ezequiel Dutra, da loja Galpão Animal, onde araras dessa espécie são vendidas. Assim como outros lojistas e criadores ouvidos pelo G1, a Galpão Animal ressaltou ter autorização do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e só vender animais com registro e nota fiscal, de forma legalizada.
O Ibama confirma que a comercialização da arara-azul pode ser realizada, desde que as documentações do animal e da loja estejam em ordem e seja comprovada sua origem legal.
Orientações
Antes de comprar o pet, cheque com a unidade do Ibama local (estadual ou municipal) se a loja possui registro e está dentro da lei.
Peça sempre a nota fiscal ao comprar o animal.
A venda de animais exóticos (de fora do país), com exceção de aves, está proibida.
A venda de animais silvestres (naturais do país) exige registro no Ibama e origem legal comprovada.
A venda de iguanas, jabutis e jiboias foi proibida por decisão judicial no estado de São Paulo desde 2008, segundo o Ibama.
Cheque se o animal é nascido e criado em cativeiro. Animais nascidos na natureza ou selvagens em geral não podem ser vendidos.
Pesquise antes sobre o bicho, seu comportamento e avalie o espaço disponível na casa.
Tenha em mente que adquirir um animal incomum exige cuidados extras - eles não podem nem devem ser soltos na natureza ou nas ruas.
É importante ter um espaço na casa destinado ao animal - pode ser um terrário, gaiola ou viveiro.
Se a família não se adaptar ao bicho por algum motivo, ele deve ser entregue de volta à loja onde foi adquirido. Caso não seja possível, o Ibama local, órgãos ambientais municipais e estaduais devem ser procurados.

Fontes: Ibama, veterinários e biólogos
Criando uma ave
Os principais cuidados com as aves são ter um viveiro ou gaiola grande, com espaço para acomodar o bicho de asas abertas, além de proteção contra o frio, contra o vento direto e a umidade, afirma o biólogo Dutra. "Elas [as aves] são muito suscetíveis à pneumonia. É importante ter lâmpadas específicas e equipamento para aquecimento", diz.
Todos os especialistas ouvidos aconselham as pessoas que querem ter um pet "diferente" a pesquisar antes sobre o bicho, sobre seu comportamento e a avaliar como vai ser a adaptação da família ao animal.
"Tem que pensar se tem criança ou não [em casa], qual o perfil do casal. Também tem que tomar cuidado com a alimentação do bicho, o que pode ou não dar para ele comer", afirma Fernando Felipe, proprietário do pet shop Horus.
Outra questão importante é o espaço em casa para acomodar o pet. "Todo animal de estimação não-convencional requer um recinto onde você possa deixá-lo quando não tem ninguém por perto. Pode ser um terrário, uma gaiola ou um viveiro", diz o biólogo da Galpão Animal.
Além das araras-azuis, a loja vende outros tipos de animais, incluindo peixes, tartarugas tigres d'água e pássaros como cacatuas-moluca (naturais da Austrália), araras-canindé, tucanos e anacãs (todos encontrados no Brasil).
O agapornis Flecha faz pose para a câmera com o veterinário Rodrigo Ferreira (Foto: Flávio Moraes/G1)O agapornis Flecha faz pose para a câmera com o
veterinário Rodrigo Ferreira (Foto: Flávio Moraes/G1)
Dentro ou fora de casa
A criação de aves pode ser feita tanto dentro quanto fora de casa, dependendo do tamanho e da espécie do animal, explica o veterinário Rodrigo Ferreira, proprietário da clínica Exoticare, especializada em animais silvestres e exóticos. 
O veterinário diz que espécies pequenas - como periquitos, papagaios e calopsitas - vivem melhor dentro de casa e criam vínculo com os donos. "O cuidado com aves não costuma ser problemático", afirma. Ferreira ressalta que a dieta do animal deve ser baseada em ração e que, dependendo da espécie, pode incluir frutas e sementes. Uma alimentação inadequada pode levar o animal a ter falta de vitaminas e excesso de gordura, enfatiza o especialista.
Uma opção de pet diferente e carinhoso é o agapornis, conhecido como periquito-namorado ou pássaro-do-amor, de origem africana. O pequeno Flecha, por exemplo, é o "xodó" da bióloga Sandra Occhiuto, de 50 anos. "Ele come só ração, fruta e toma água. É supermansinho. Eu escolhi porque moro em apartamento, e cachorro iria requerer bastante cuidado", diz ela.
A bióloga afirma que o animal se adaptou bem à família. "Ele brinca bastante, adora entrar em bolsas, em roupas, é bem curioso." Ela diz não ter imaginado que o bicho iria interagir tanto. "Tem dias que ele quer ficar com meu marido, em outras brinca com meu filho."
AnimalPreço médioVida médiaRestrições à venda
JiboiaR$ 1,5 mil20 anosProibida no estado de SP
Teiú (lagarto)R$ 80020 a 30 anosPermitida
IguanaR$ 1,5 mil20 a 30 anosProibida no estado de SP
Tartaruga tigre d'águaR$ 120 a R$ 15060 a 70 anosPermitida
JabutiR$ 400100 anosProibida no estado de SP
FurãoR 1,5 mil8 a 10 anosPermitida
SaguiR$ 3 mil17 anosPermitida
Arara-CanindéR$ 3 mil60 a 70 anos
Permitida
Arara-Azul
R$ 70 mil70 a 80 anosPermitida
Arara-jubaR$ 6 mil50 anosPermitida
AnacãR$ 6 mil50 anosPermitida
Cacatua molucaR$ 50 milPermitida
Sandra ressalta que mantém a gaiola limpa e toma todos os cuidados com a saúde do pássaro. "Só vale pegar [um bicho diferente] se você puder cuidar. O que tem de animal abandonado não é fácil", lamenta.
Mais baratos
Opções de pets "diferentes" mais baratos do que a arara-azul incluem tartarugas e jabutis. Uma tartaruga tigre d'água, por exemplo, custa de R$ 120 a R$ 150 por filhote, segundo Ricardo Romanetto, dono de uma reserva no Paraná onde os animais são criados, batizada com o seu sobrenome.
Para quem mora em apartamento, a tigre d'água é uma ótima opção, diz o criador. "O animal vive na água, dorme na água, é o habitat dele. É muito mais fácil para cuidar e limpar, basta trocar a água com frequência", explica. Um aquário ou recipiente grande específico para a tartaruga é suficiente para acomodá-la.
A tigre d'água atinge de 25 a 35 centímetros de tamanho - as fêmeas em geral são maiores que os machos. É importante levar a tartaruga para tomar sol e mantê-la aquecida, diz Romanetto.
O criador explica que este pet é menor do que um jabuti e sua compra é permitida em território brasileiro. É importante checar se o animal que está sendo adquirido não é da espécie americana, cuja venda é proibida no país.
A tigre d'água americana pode ser identificada pelas manchas vermelhas que possui atrás dos olhos e pelo padrão diferente de desenhos do casco. A espécie é considerada invasora e só entra no país por contrabando, de acordo com o criador.
Teiú preto-e-branco na mão do veterinário (Foto: Flávio Moraes/G1)Teiú preto-e-branco na mão do veterinário
(Foto: Flávio Moraes/G1)
Outra opção são os teiús, lagartos comuns no Brasil. O preço médio do animal é de R$ 800. Nesse caso, é importante saber que o bicho cresce quando se torna um adulto, chegando a atingir 1,5 metros, alerta o veterinário Ferreira. Ele é dono de um teiú fêmea.
Por não produzirem calor próprio, répteis (como os teiús, cobras e tartarugas) precisam de fonte de aquecimento, ressalta o biólogo Dutra. É recomendado adquirir lâmpadas de raios ultravioleta (UVA e UVB) e pedras térmicas para serem colocadas no terrário do animal. O contato com seres humanos desde filhotes faz com que estes pets se tornem mais dóceis e se acostumem com o manuseio.
Mamíferos
Adotar mamíferos, como um furão, um macaco sagui ou um quati, também é uma alternativa para quem quer um pet não-convencional. O mais difícil nestes animais é que eles são curiosos e costumam "fuçar" em tudo - os saguis ainda têm como característica serem temperamentais, dizem os especialistas.
Os macaquinhos são vulneráveis a herpes, portanto em hipótese alguma alimentos que foram mordidos por seres humanos, como frutas, devem ser dados a eles, ressalta o biólogo da Galpão Animal.
Anderson e seu quati, Fiona, batizada em homenagem ao filme 'Shrek' (Foto: Arquivo Pessoal)Anderson e a quati Fiona, batizada em homenagem
ao filme 'Shrek' (Foto: Arquivo Pessoal)
Outro cuidado importante com os mamíferos é com relação aos excrementos. A urina e as fezes deles costumam ter cheiro forte, portanto um viveiro para o bicho em um cômodo que possa ser limpo constantemente ajuda, na opinião dos especialistas.
Dono de uma quati fêmea há quase quatro anos, o engenheiro Anderson Basso de Oliveira, de 36 anos, faz sucesso quando a leva para passear no parque Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo. Fiona, como é chamada, recebe carinho e atenção do dono tanto no parque como em casa, onde há um quarto separado apenas para o animal.
"Escolhi o nome por causa do filme - ela é bruta igual àquela personagem do 'Shrek'", diz o engenheiro. O animal, que foi vacinado recentemente, tem audição e faro muito aguçados e não gosta de barulhos altos, como de automóveis. "Dá para andar no bairro, mas como ela odeia barulho de carro, eu prefiro levá-la a lugares mais tranquilos, com árvores e verde", ressalta.
O engenheiro aconselha: "Se você quiser ter um animal silvestre, tem que pensar muito bem. Eu amo animais, tenho um aquário de 1,2 mil litros em casa. Tem que ser uma coisa bem pensada e bem escolhida, não pode ser por impulso."
O macaco sagui costuma ser temperamental, dizem especialistas (Foto: Flávio Moraes/G1)O macaco sagui costuma ser temperamental,
alertam especialistas. (Foto: Flávio Moraes/G1)
Cuidados
Antes de comprar um pet "diferente", o Ibama orienta os interessados a checarem com a unidade local da instituição se a loja procurada possui registro e está dentro da lei. Outro conselho dado pelo instituto do meio ambiente é pedir a nota fiscal na hora de comprar o animal.
A nota fiscal é a garantia de que o consumidor não cometeu crime ambiental e não comprou um bicho contrabandeado, indica o Ibama. No caso de pássaros silvestres, o órgão aconselha ao consumidor que cheque se o bicho possui um anel de metal com o número de registro na pata, a chamada "anilha".
Adquirir um animal silvestre ou exótico e soltá-lo na rua ou na natureza é crime ambiental, alerta o Ibama. Caso o bicho não tenha se adaptado à nova família, o melhor é levá-lo de volta para a loja ou criadouro onde ele foi adquirido e devolvê-lo - estabelecimentos considerados sérios costumam aceitar o animal de volta, podendo ou não ressarcir o dinheiro pago por ele. Outra possibilidade é entregar o bicho ao Ibama local ou aos órgãos ambientais estaduais e municipais.

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